segunda-feira, 16 de junho de 2008

Resenha: Undergångens arkitektur - Arquitetura da Destruição.

“Arquitetura da destruição” é outro documentário do diretor sueco Peter Cohen, o mesmo de “Homo Sapiens 1900”. Neste filme, Cohen trás para o público os almejos da Alemanha nazista além dos já “batidos” pela historiografia geral. Cohen apresenta sob um novo prisma o estado nazista: seus ideais de beleza, a importância das artes para o projeto fascista alemão. Este é exatamente o tema principal do documentário.

Adolf Hitler é apresentado no filme não como um demônio, como é freqüente, e sim como um apreciador de artes. Admirador do compositor alemão Richard Wagner[1] , o chefe do estado nazista, que havia sido um frustrado pintor antes de ascender à chefia do partido nacional-socialista, tomou como inspiração muitas das idéias do dito compositor.
Na noite da tomada do poder, Hitler já esboçava arquitetonicamente a “nova Alemanha”, muitos dos quais viria a realizar posteriormente.

Hitler odiava Berlim; a tinha como uma cidade suja, feia atrasada, decadente; pretendia a reconstrução total da cidade para transformá-la em uma capital digna de seu império. O Prédio da Chancelaria, um dos maiores de Berlim na época do governo nazista, era uma das maiores figuras do poderio, e da grandiosidade que o líder nazista queria passar para seu povo. A arquitetura tinha um importante papel na propaganda, já que expunha materialmente a suntuosidade do III Reich; com a fundação da Sociedade Nacional-Socialista de Cultura Alemã, que em 1938 passou a ser chamada de Defesa da Cultura Alemã, é feita a associação entre a arte da modernidade, “degenerada”, aos judeus e aos comunistas, enquanto a artes clássicas e renascentistas, estavam estritamente ligadas aos nacional-socialistas, sendo esta outra deturpação feita por estes.

Ao invadir Paris, Hitler conceba maiores planos para Berlim: o Arco do Triunfo – que viria a ser construído, em meio a sérias discussões com os projetistas, por conta do solo fofo de Berlim, e que foi destruído na guerra –, o Centro cultural, entre outros. O objetivo da guerra não era só o controle do continente europeu, mas também, a aniquilação daquilo que não se enquadrasse nos moldes nazistas. Os prisioneiros de guerra eram postos em trabalhos forçados nas indústrias e nas novas urbes.

Contudo, nem todos os prisioneiros se limitavam aos trabalhos forçados. Um seguimento específico destes, de fato, trabalhava assim como os outros, mas a curto/médio prazo, seriam exterminados sumariamente: os judeus. O fato de 45% dos médicos alemães serem do Partido Nacional-Socialista, criou uma base para que as idéias de Goebbels ganhassem autenticidade e fossem mais facilmente aderidas pela sociedade alemã. O conceito de “higiene racial” levará ao extermínio de milhares, milhões de judeus e de deficientes, após testes com o Zyklon-B, um tipo de inseticida à base de ácido cianeto.

A contratação de artistas alemães para a retratação da guerra em Berlim foi a retração de uma guerra já finda para os nazistas. Observa-se nas telas uma Alemanha enfraquecida e já arrasada pela guerra, mas que até o fim, manteve-se artística e perseguidora de seus padrões de beleza, padrões estes que foram levados às últimas conseqüências, com o Holocausto.


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[1] Em suas obras, como “O Anel de Nibelungo” e “Tristão e Isolda”, Wagner expressa muito a mitologia germânica. Outro fator que colocou o poeta e compositor entre os ídolos de Hitler foi o anti-semitismo. Wagner escreveu uma série de ensaios sobre o tema, como “O Judaísmo na Música”, no qual analisa – e critica – os judeus não só no campo artístico alemão, mas também em todos os setores da sociedade, pregando que estes, se fossem para permanecer no país, abandonassem suas práticas religiosas. Curiosamente, Wagner possuía muitos amigos judeus, que apesar de suas idéias, o acompanharam até seus últimos dias.

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