segunda-feira, 23 de junho de 2008

Fichamento: Texto 10 – Milman.


Luis Milman dedica seu texto a negação do Holocausto, através movimento chamado de “Revisionismo”. Este nega a ocorrência do Holocausto, da execução sumária dos sionistas nos campos de trabalho, considera falsos ou fraudados os documentos que de alguma forma culpam os nacional-socialistas alemães.

O texto apresenta três constatações do negacionismo:

1. Este não é uma interpretação historiográfica alternativa, mas sim, uma interpretação fictícia. Enquanto a história tem seu caráter científico definido, provado, a memória, que esta corrente aceita como válida para a afirmação histórica, possui falhas e parcialidade.

2. As explicações rasas para negar o Holocausto e tentar esvaziar de culpa o regime nazista são uma das principais marcas das teorias revisionistas. Estas não alcançam seus objetivos pois confrontam uma enorme quantidade de documentos e depoimentos comprobatórios dos crimes cometidos pelos alemães.

3. esta constatação trata da tentativa de diminuir a importância das atrocidades cometidas pelos nazis. Para tanto, os negacionistas respondem aos ataques que sofrem, com o argumento de que o mal cometido por aqueles durante o seu governo e a II Guerra foi menor quando comparado aos crimes cometidos pelos Aliados em outras ocasiões como a Guerra da Coréia, a do Vietnã, do Iraque, o colonialismo francês na Argélia e no Vietnã, as ações inglesas na Índia, entre outros exemplos. Apesar desta discussão parecer válida – a de expor também os crimes do bloco Aliado -, ela não retira a culpa e a repugnância das ações nazistas na chamada “limpeza étnica” que se propuseram a fazer.

“Os negacionistas apresentam-se como pesquisadores dedicados a questionar a ‘história oficial’”, mas quando vistos de perto são anti-semitas preocupados em habilitar o fascismo e o neofascismo. O negacionismo também é apropriado como “forma de denunciar um alegado artificialismo de Israel (...). Desse modo, o negacionismo passa a servir de justificativa para a rejeição de qualquer forma de compromisso com a existência política de Israel, rejeição a qual apegam-se setores árabes e muçulmanos ideologicamente intransigentes” (Milman, pg. 3). Neste trecho, Milman recrudesce o negacionismo colocando seus defensores como racistas e preconceituosos.

O revisionismo hoje é claramente composto por anti-semitas, neonazistas e integrantes de grupos de extrema-direita. Lembra-se também que os discursos destes muitas vezes podem confundir o público por conta de falácias e até mesmo por argumentações infundadas cientificamente, mas com “ares de autoridades”. Assim, termino com exposição pa necessidade de que a história difundida não deve limitar-se a contar a versão, a “visão” daqueles que venceram, mas evidenciar também o lado derrotado, para evitar que movimentos semelhantes ocorram.

BIBLIOGRAFIA:
MILMAN, Luis. “Negacionismo: gênese e desenvolvimento do genocídio conceitual” In: MILAN, Luis, VIZENTINI , Paulo, Op. Cit., p. 115 a 154.

Fichamento: Texto 08 – Goodrick-Clarke


Este texto nos apresenta os movimentos neonazistas como uma adaptação das idéias do movimento político da déc. de 1920/30 para o contexto onde surgem posteriormente. Temos este fenômeno exemplificado nas ações contra negros nos Estados Unidos frente a políticas de direitos e oportunidades iguais concedidas pelo governo. Outro exemplo, no caso europeu, se dá no que diz respeito aos imigrantes, provenientes de áreas coloniais – Argélia, no caso francês; Jamaica e Índia, no inglês – que são atacados basicamente pelo mesmo motivo. O estranhamento de culturas diferentes – o preconceito – gera a intolerância e cria um terreno propício para a disseminação, e conseqüente apoio, de teorias racialistas.
O neonazismo de características esotéricas tem por base negar a queda do “White Power” expondo a época atual como uma degeneração do mundo por conta dos judeus. Esta era de ostracismo do poderio branco será superada pela renascença da Alemanha Nazista. O surgimento de novas estruturas sociais viu surgir também novas formas de ação política, entre elas o neonacionalismo, que paradoxalmente floresceu aliado à busca por uma pluralidade, por semelhanças entre os povos, exemplificado pela “Identidade Cristã”.

Nos anos 1980 a extrema-direita se reforça na Europa e nos Estados Unidos, fato comprovado pelo aumento do nº de gangues urbanas, de bandas musicais de cunho racista, agremiações políticas, etc. Este processo, de recrudescimento da extrema-direita, leva-nos a crer em uma futura ascensão destes grupos ao poder e uma possível política oficial de perseguição com base no preconceito e no racismo. Neste ponto é que cabe aos cientistas políticos, antropólogos, historiadores e outros evidencias o movimento antes que este ganhe corpo novamente e cause atrocidades como foram vistas no séc. XX, mas desta vez mais articulado e maduro.

BIBLIOGRAFIA:
GOODRICK-CLARKE, Nicholas. Sol Negro: cultos arianos, nazismo esotérico e políticas de identidade. São Paulo: Madras, 2004. Conclusão: p. 397-401

domingo, 22 de junho de 2008

Resenha "Triumph des Willens" - o Triunfo da Vontade.



Este filme se torna de difícil análise pois diz respeito à propaganda nazista. O documentário em questão acompanha a reunião anual do NSDAP (Partido nacional-socialista alemão) realizada em 1934. Encomendado pelo próprio Adolf Hitler, Leni Riefenstahl dirigiu e montou o filme, que é considerado um marco no cinema.
O filme, como uma propaganda do partido, cumpre brilhantemente seu objetivo: sob as lentes de Leni os nazistas são retratados como seres superiores que estavam tirando a Alemanha do ostracismo e da humilhação. Nas cenas da reunião do partido, as paradas militares ganham destaque enfatizando a figura do Führer como líder de super-homens que tinham como destino a hegemonia não só territorial, mas também étnica na Europa e em todo o mundo.

Posteriormente à guerra, o filme foi proibido em diversos países, por questões óbvias. Contudo, Riefenstahl, que sequer era integrante do NSDAP, foi rotulada de nazista pelo resto de sua vida e, infelizmente, caiu no esquecimento se limitando a fazer filmes científicos, mais precisamente, submarinos, uma vez que além de cineasta ela era nadadora. Leni Riefenstahl faleceu em 2003 na cidade alemã de Pöcking aos 101 anos.

sábado, 21 de junho de 2008

Desenrolar da II Guerra Mundial no mapa europeu. - em Power Point

http://www.mediafire.com/?bnszsd4ejxx

neste link, hospedado pelo mediafire, coloquei uma apresentação de Power Point que ilustra os avanços de tropas durante a II Guerra. Para acessa-lo, copie e cole no navegador.
podem baixar que é seguro.
para fazer o download é só esperar, a barra que aparece na esquerda, carregar, depois clicar no link que aparece em azul.

divirtam-se.

"o judaismo na música" de Richard Wagner. Texto Integral em inglês.

http://reactor-core.org/judaism-in-music.html

o link acima irá redireciona-lo, leitor, à página onde está o texto. Neste, o compositor alemão, ataca os judeus nas artes alemães, e trata mais especificamente da "ação" dos judeus música.

o texto, de 1850, primeiramente foi assinado com um pseudônimo, só sendo atribuído, de fato, a Wagner dezenove anos depois.
A rixa de Wagner aos judeus se dava, entre outros fatores, ao sucesso de Giacomo Meyerbeer e Felix Mendelssohn, ambos compositores judeus de óperas, que de acordo com Wagner, deturpavam a cultura germânica verdadeira.

Wagner era, se assim posso dizer, um fundamentalista germânico, e seu legado, além das belíssimas obras na música erudita, foi um embrionário antisemitismo fundamentalista germânico(*), que viria a ser um dos fundamentos da ideologia hitlerista.

Espero que gostem do texto; bom, obviamente, o "gostem" foi usado de forma acad~emica, certo?

(*) - lembrando que o antisemitismo sempre existiu na Europa.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Resenha: Undergångens arkitektur - Arquitetura da Destruição.

“Arquitetura da destruição” é outro documentário do diretor sueco Peter Cohen, o mesmo de “Homo Sapiens 1900”. Neste filme, Cohen trás para o público os almejos da Alemanha nazista além dos já “batidos” pela historiografia geral. Cohen apresenta sob um novo prisma o estado nazista: seus ideais de beleza, a importância das artes para o projeto fascista alemão. Este é exatamente o tema principal do documentário.

Adolf Hitler é apresentado no filme não como um demônio, como é freqüente, e sim como um apreciador de artes. Admirador do compositor alemão Richard Wagner[1] , o chefe do estado nazista, que havia sido um frustrado pintor antes de ascender à chefia do partido nacional-socialista, tomou como inspiração muitas das idéias do dito compositor.
Na noite da tomada do poder, Hitler já esboçava arquitetonicamente a “nova Alemanha”, muitos dos quais viria a realizar posteriormente.

Hitler odiava Berlim; a tinha como uma cidade suja, feia atrasada, decadente; pretendia a reconstrução total da cidade para transformá-la em uma capital digna de seu império. O Prédio da Chancelaria, um dos maiores de Berlim na época do governo nazista, era uma das maiores figuras do poderio, e da grandiosidade que o líder nazista queria passar para seu povo. A arquitetura tinha um importante papel na propaganda, já que expunha materialmente a suntuosidade do III Reich; com a fundação da Sociedade Nacional-Socialista de Cultura Alemã, que em 1938 passou a ser chamada de Defesa da Cultura Alemã, é feita a associação entre a arte da modernidade, “degenerada”, aos judeus e aos comunistas, enquanto a artes clássicas e renascentistas, estavam estritamente ligadas aos nacional-socialistas, sendo esta outra deturpação feita por estes.

Ao invadir Paris, Hitler conceba maiores planos para Berlim: o Arco do Triunfo – que viria a ser construído, em meio a sérias discussões com os projetistas, por conta do solo fofo de Berlim, e que foi destruído na guerra –, o Centro cultural, entre outros. O objetivo da guerra não era só o controle do continente europeu, mas também, a aniquilação daquilo que não se enquadrasse nos moldes nazistas. Os prisioneiros de guerra eram postos em trabalhos forçados nas indústrias e nas novas urbes.

Contudo, nem todos os prisioneiros se limitavam aos trabalhos forçados. Um seguimento específico destes, de fato, trabalhava assim como os outros, mas a curto/médio prazo, seriam exterminados sumariamente: os judeus. O fato de 45% dos médicos alemães serem do Partido Nacional-Socialista, criou uma base para que as idéias de Goebbels ganhassem autenticidade e fossem mais facilmente aderidas pela sociedade alemã. O conceito de “higiene racial” levará ao extermínio de milhares, milhões de judeus e de deficientes, após testes com o Zyklon-B, um tipo de inseticida à base de ácido cianeto.

A contratação de artistas alemães para a retratação da guerra em Berlim foi a retração de uma guerra já finda para os nazistas. Observa-se nas telas uma Alemanha enfraquecida e já arrasada pela guerra, mas que até o fim, manteve-se artística e perseguidora de seus padrões de beleza, padrões estes que foram levados às últimas conseqüências, com o Holocausto.


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[1] Em suas obras, como “O Anel de Nibelungo” e “Tristão e Isolda”, Wagner expressa muito a mitologia germânica. Outro fator que colocou o poeta e compositor entre os ídolos de Hitler foi o anti-semitismo. Wagner escreveu uma série de ensaios sobre o tema, como “O Judaísmo na Música”, no qual analisa – e critica – os judeus não só no campo artístico alemão, mas também em todos os setores da sociedade, pregando que estes, se fossem para permanecer no país, abandonassem suas práticas religiosas. Curiosamente, Wagner possuía muitos amigos judeus, que apesar de suas idéias, o acompanharam até seus últimos dias.

Fichamento do texto nº 9 - VICENTINI

Fichamento do texto nº 9

“Os acontecimentos no mundo têm reforçado a importância da reflexão sobre o neonazismo e a extrema direita. A preocupação ao abordar esse tema, não se restringe à idéia de um movimento político em si, ou a questões exclusivamente de origens sociais, éticas ou filosóficas ligadas a essa temática, mas sim contribuir a partir de uma dimensão histórica, principalmente calcada nos problemas internacionais, que estão por detrás desse ressurgimento, já que, infelizmente, esse é um fenômeno que não está conhecendo fronteiras no mundo inteiro.”

Assim se inicia o trabalho de Vicentini, que tem como objetivo analisar a expansão e a conseqüente aderência ao movimento por uma série de seguimentos de direita ao redor do mundo

Sendo o fascismo uma resposta ao liberalismo da década de 1920, sua convivência com o socialismo e o temor ao avanço deste nas democracias ocidentais era acreditado como sendo uma possível “barreira” para o avanço daquele.
Contudo o movimento de extrema-direita não foi destruído completamente em 1945, tanto que países como Espanha, Portugal e Grécia continuaram com regimes de perfil semelhante no poder.
Apesar da derrota fascista na segunda guerra, a máxima histórica de que “nada que uma vez houve na história não deixa raízes para a posteridade” também se faz presente neste caso.
Durante a guerra Fria, muitos colaboracionistas – fascistas ao capitalismo - se esconderam na bandeira da solidariedade anticomunista. Personalidades nazistas foram úteis pelo seu conhecimento técnico na Guerra Fria. O fascismo sobreviveu fragmentado por anos, desempenhando algumas tarefas complementares, como o ocorrido com a organização paramilitar Gladio.

Com o avançar do tempo, e a chegada dos “anos dourados”, as décadas de 1950/60 na Europa, a política se viu em uma crise, proporcionada pelo desinteresse e acomodação popular, devido à prosperidade econômica. Em meio a esse processo de ostracismo, a juventude dos partidos de extrema-direita, não contemporâneos a desnazificação.

O fascismo, mais especificamente o nazismo, ressurge nos fins do séc. XX contagiando principalmente a juventude européia que, de certa forma, não possui identidade próprias. Em uma Europa em meio à crise internacional do petróleo – de 1973 – e, em termos políticos, com uma série de revoluções apoiadas pela União Soviética eclodindo nos países “de terceiro mundo”, de temor exacerbado. Somando-se a isso, a emigração à Europa de latinos e africanos para suprir ao baixo nível de mão-de-obra disponível no continente, tem-se o panorama necessário para o renascimento de movimentos xenófobos e, de modo geral, o neonazismo.

O surgimento do movimento evidencia o renascimento, ou melhor, o restabelecimento da extrema-direita na Europa. O medo, aliado a ignorância geraram o processo que deve ser detido antes que culmine na repetição da tragédia ocorrida no século passado.

BIBLIOGRAFIA:

VIZENTINI, Paulo F. “O ressurgimento da extrema-direita e do neonazismo: a dimensão histórica e conceitual”. In.: Neonazismo, negacionismo e extremismo político. Porto Alegre: Ed. da Universidade, 2000. p. 17-46.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Um vídeo.

Primeiramente, gostaria de me desculpar pela postgem estúpida... que ninguém fique ofendido, por favor.
este quadro é retirado do programa de animação em "stop-motion" estadunidense Frango-Robô, que faz paródias de uma gama de programas televisivos. é em inglês, mas é bem tranqüilo de entender.

Creio que vale a pena compartilhar este vídeo, por mais chulo e grosseiro que este possa parecer.

um forma humorada - sim, humor negro, mas ainda sim, humor - de contar como se deu a segunda guerra: o expansionismo hitlerista; o descaso - a professora - representante, por que não dizer, da Inglaterra e da França; e a política de ignorância, promovida pelos Estados Unidos - até o momento final, quando se vê atingido.

domingo, 6 de abril de 2008

"A anatomia do Fascismo" - Capítulo 8: p.335-361 - Robert Paxton - Fichamento 3

Neste último capítulo de seu livro, Robert Paxton apresenta, logo no título uma questão que permeia toda a obra: o que é o fascismo?

Para responder tal pergunta, Paxton volta a mencionar as cinco etapas deste, apresentados no primeiro capítulo do livro: criação dos movimentos; enraizamento nos sistemas políticos; a tomada do poder; o exercício do poder; e o longo período de tempo durante o qual o regime faz a opção ou pela radicalização ou pela a entropia.

Para Paxton, o fascismo no poder consiste num composto, um amálgama poderoso dos ingredientes distintos, mas combináveis do conservadorismo, do nacional-socialismo e da direita radical, unidos por inimigos em comum e pela mesma paixão pela regeneração, energização e purificação da nação, qualquer que seja o preço a ser pago em termos das instituições livres e do estado de direito.

Também é encontrado no texto o caráter obsessivo dos fascistas analisado como objeto psicanalítico; entretanto, é um objeto (Hitler e Mussolini) inacessível. Os psicanalistas partem do pressuposto que se alguns fascistas eram de fato loucos, como seu público os adorava e de como eles conseguem exercer suas funções eficazmente por tanto tempo.

A Alemanha em inícios da década de 30 encontrava-se profundamente polarizada. Os clubes alemães, desde o canto coral até os seguros funerários, estavam segregados em redes separadas de socialistas e não-socialistas, o que facilitou a exclusão dos socialistas e a encampação dos demais pelos nazistas.

O também expõe uma linha de pensamento que apresenta o fascismo como uma ditadura industrialista. Isso é dito através da afirmação de que “em países que se industrializaram de forma rápida e tardia,(...) as tensões de classes eram particularmente agudas e as soluções de compromissos eram bloqueadas pela elite pré-industriais sobreviventes." Essa linha de pensamento vê o fascismo como um produto da história. Uma comparação entre os regimes alemão e soviético. O stalinismo diferia do de nazismo em termos de dinâmica social e também de seus objetivos.

Stalin governava uma sociedade civil que havia sido radicalmente simplificada pela Revolução Bolchevique; já Hitler chegou ao poder contando com o assentimento e até mesmo com o auxílio das elites tradicionais.
Ambos os regimes também se diferem em termos de seus objetivos últimos declarados. Sendo para um a igualdade universal e para outro a supremacia da “raça mestra”.

Stalin matava de maneira totalmente arbitrária os “inimigos de classe”, de modo que atingia basicamente os homens adultos da população. Já Hitler matava os “inimigos raciais”, uma condição que condena até mesmo recém-nascidos. Ele queria exterminar povos inteiros, incluindo suas sepulturas e seus artefatos culturais.

Posteriormente, a essas considerações, outra comparação é apresenta, desta vez entre este sistema político e a religião, de modo amplo. Esta se dá pelo fato da mobilização em torno da ritualísca fascista, seus grandiosos eventos e a tão cultuada “ordem” do regime, estimulando seus seguidores até o ponto do fervor abnegado e pregava uma verdade que não admitia dissidência.

Antes de concluir o texto – e o livro -, Paxton faz uma consideração sobre os fascismos e as ditaduras militares, sendo estas muitas vezes chamadas de fascistas. Os autoritários preferem deixar suas populações desmobilizadas e passivas, já os fascistas querem engajar e excitar o público. Os autoritários querem um Estado forte, mas limitado. Hesitam em intervir na economia, coisas que os fascistas sempre estão prontos a fazer, ou em criar programas de bem-estar social. Assim, não se pode colocar uma ditadura militar, nem uma ditadura pré-democrática, como fascista, pois a estas falta a manipulação do entusiasmo das massas e a energia demoníaca do fascismo, que vão lado a lado com a missão de “abandonar as instituições livres” em nome da unidade, da pureza e da força nacionais. Embora todos os fascismos sejam militaristas, nem todas as ditaduras militares são fascistas. A maioria das ditaduras militares atua como simples tirania, sem ousar desencadear a excitação popular do fascismo. As ditaduras militares são muito mais comuns que o fascismo, pois não possuem um vínculo obrigatório com uma democracia fracassada, e são tão antigas quanto os guerreiros.

O autor conclui seu livro com uma definição clara do que é o fascismo, dando esposta a pergunta inicial. O fascismo tem que ser definido como uma forma de comportamento político marcada por uma preocupação obsessiva com a decadência e a humilhação da comunidade, vista como vítima, e por cultos compensatórios da unidade, da energia e da pureza, nas quais um partido de base popular formado por militantes nacionalistas engajados, operando em cooperação desconfortável, mas eficaz com as elites tradicionais, repudia as liberdades democráticas e passa a perseguir objetivos de limpeza étnica e expansão externa por meio de uma violência redentora e sem estar submetido a restrições éticas ou legais de qualquer natureza.


Bibliografia:

PAXTON, Robert O. “A anatomia do fascismo”. São Paulo. Paz e Terra, 2007. Capítulo 8: p.335-361

PARSONS, “Democracy and Social Structure in Pre-Nazi Germany”, em Parsons, “Essay in Sociologycal Theory”, ed. Rev. Glencoe, IL: Free Press, 1954, p. 104-23.


domingo, 30 de março de 2008

"A anatomia do fascismo" - Capítulo 1: p.13-49 - Fichamento 2

O texto nº II, do livro, “A anatomia do fascismo” de Robert O. Paxton – capítulo 1: “Introdução”, pode ser dividido em três partes. Estas são analisadas nas próximas linhas.

Na primeira parte é a analisada a conjuntura de surgimento do fascismo. É vista a situação na Europa no período imediatamente anterior – entre a expansão das idéias socialistas e o aparecimento do fascismo. O aparecimento deste, pelo que é apresentado nas páginas 13 e 14, foi primeiramente espontâneo – isto é, repentino.

Em 1895 Friederich Engels escreve que “Se a crescente votação socialista continuar assim, ao final deste século, nós teremos conquistado a maior parte dos estratos médios da sociedade os pequenos burgueses e os camponeses transformando-nos na força decisiva do país” e ainda diz mais que “Os conservadores já haviam percebido que a legalidade trabalhava contra eles. Ao contrário nós, sob essa legalidade adquirimos músculos rijos, faces rosadas, e a aparência de vida eterna (...)”.

Após a citação do texto de Engels, entretanto, Paxton expõe que, na realidade o que se viu foi o movimento de reação da alta burguesia sendo aceito por grandes massas populares que passaram a apoiar, cada vez mais – em determinados países - um discurso que evocava as raízes nacionalistas.

O termo fascismo, como exposto no texto, vem do italiano fascio. Originalmente o termo fora utilizado por revolucionários italianos em fins do sac. XIX para evocar a solidariedade e o compromisso entre si. Em 1914 um grupo de nacionalistas de esquerda se apropria da termologia, e milita pela entrada da Itália na primeira guerra do lado dos aliados. Ao fim desta, Mussolini, um dos ativista do Fasco Rivoluzionario d’Azione Interventista – Liga Revolucionária de Ação Intervencionista – cunha o termo fascismo para descrever o estado de espírito do pequeno bando de soldados nacionalistas e revolucionários sindicalistas pró-guerra. Até então, contudo, o termo fascio nao designava o que se entende hoje como fascismo. Este, oficialmente, nasce apenas em 1919, em Milão, na manhã do dia 23 de março em uma reunião da Aliança Industrial Comercial onde os presentes declaram “guerra ao socialismo (...) em razão de este ter-se oposto ao nacionalismo”. Mussolini chamou então seu movimento de Fasci de Combattimento traduzido - aproximadamente como Fraternindade de Combate.

Aproximadamente dois meses mais tarde era divulgado um programa aproximadamente nacional-socialista. Nacionalista no que consisti a convocação a expansão italiana nos Bálcãs e ao redor do mediterrâneo, expansionismo que havia sido frustrado na Coferência de Paz de Paris, meses antes. Dolado mais radical do movimento vinham idéias como o sufrágio feminino e a redução eleitoral para os 18 anos de idade; a abolição da câmara alta; a elaboração de uma nova constituição – provavelmente sem monarquia -; a estipulação da jornada de trabalho em 8 horas; participação dos trabalhadores na administração fabril; além da expropriação parcial de todos os tipos de riqueza, tributando-se fortemente e progressivamente o capital; o confisco de terras da igreja e de 85% dos lucros de guerra.

No pré-guerra o sindicalismo era a principal opositora da classe trabalhadora do socialismo parlamentar. Enquanto estes buscavam uma mudança gradativa do sistema capitalista, através de reformas pontuais – conforme profetizado por Marx no séc. XIX, os sindicalistas buscavam ações de transição imediata.

Nos idos do 1915, quando ambos os grupos socialistas eram contrários a participação italiano no confronto, Mussolini e seus, até então, poucos seguidores defendiam que a guerra levaria a Itália a um estágio mais próximo de uma revolução social. Este grupo havia-se tornado os “sindicalistas nacionalistas”. Vale a pena destacar-se a composição do grupo de Mussolini por – entre outros elementos – os futuristas, que posteriormente, quando o movimento chegar os poder, difundirão os valores próprios dentro do sistema de governo – valores como, por exemplo, a modernidade e a violência – sendo esta adaptada pelo governo como atos violentos contra os opositores.

Alguns meses após a reunião de Milão um escritório de um jornal socialista – o Avanti – é invadido pelos fascistas e resulta em mortos e feriados, além da destruição de equipamentos.

Três anos depois, através do apoio popular, Mussolini e o fascismo chegavam ao poder na Itália. Onze anos depois, na Alemanha. E mais seis anos se passam até que Hitler inicia o maior conflito bélico da história da humanidade.

Muito antes dos fascistas terem chegado ao poder, os marxistas já tinham definido este como “o instrumento da grande burguesia em sua luta contra o proletariado (...)”. Ao longo dos anos o fascismo, exaltou o ódia e a violência em nome do nacional, e mesmo assim atraiu intelectuais de prestígio, estadistas, empresários, artistas e profissionais.

Na segunda parte do texto é explicitado o caráter propagandista do regime fascista. O regime contava com uma forte máquina de propaganda, esta que acabou por construir a imagem que até hoje perduram de tal regime. Nesta parte do texto também é considerado o anti-semitismo. Este é exposto como uma exceção, e não uma regra do fascismo. Para ilustrar esta afirmação, na página 24 Paxton cita que “Na verdade, Mussolini contava com o apoio de industriais e proprietários de terra judeus, que, nos primeiros tempos, lhe forneceram ajuda financeira”.

Outra característica fundamental do fascismo é o seu caráter anticapitalista e antiburguês. Atacavam o “capitalismo financeiro internacional” quase com a mesma força que atacavam os socialistas. Chegaram até a ameaçar com expropriação os donos de lojas de departamentos em favor dos artesãos nacionalistas. Entretanto, essas ameaças anticapitalistas não foram cumpridas quando os fascistas chegaram ao poder.Contudo, é importante salientar – como está no texto – que era seletivo discurso anticapitalista fascista. Ao passo em que atacavam o capital especulativo transnacional, defendiam a propriedade privada nacional, sendo esta a base de uma sociedade revigorada. De uma forma mais profunda, rejeitavam a interpretação histórica de que “as forças econômicas são o motor básico da história”. Uma vez no poder, os regimes fascistas confiscaram as propriedades apenas de seus opositores políticos, dos estrangeiros e dos judeus.

O fascismo surgiu na Itália em 1919 como uma “terceira-via”, sendo contra o capitalismo, e com ainda mais força, contra o socialismo. E assim sempre se manteve, de uma forma ambígua, vagando entre a direta e a esquerda sem nunca estar fixado em um ponto. O ápice da reação fascista ao mapa político definido em relação às esquerda e a direita foi alegar que eles o haviam tornado obsoleto, não sendo “nem de direita nem de esquerda”, havendo transcendido essas divisões arcaicas e unido a nação.

Na terceira parte do texto, o fascismo é apresentado como uma “invenção nova”, criada do zero para a era da política de massas. O fascismo não se baseia num sistema filosófico complexo, e sim no sentimento popular sobre as raças superiores, a injustiça de suas condições atuais e seu direito de predominar sobre os povos inferiores. O fascismo substitui o debate ponderado pela experiência sensorial imediata, transformando a política em estética. Os fascistas odiavam os liberais tanto quanto os socialista, não pelos mesmos motivos, mas pelos primeiros serem como um cúmplice destes, uma vez que a internacionalização era o inimigo, a aplicação estrangeira do capital, era uma forma de agir a favor deste inimigo.


Bibliografia:

PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo, Paz e Terra, 2007. Capítulo1: p.13-49

sexta-feira, 14 de março de 2008