domingo, 30 de março de 2008

"A anatomia do fascismo" - Capítulo 1: p.13-49 - Fichamento 2

O texto nº II, do livro, “A anatomia do fascismo” de Robert O. Paxton – capítulo 1: “Introdução”, pode ser dividido em três partes. Estas são analisadas nas próximas linhas.

Na primeira parte é a analisada a conjuntura de surgimento do fascismo. É vista a situação na Europa no período imediatamente anterior – entre a expansão das idéias socialistas e o aparecimento do fascismo. O aparecimento deste, pelo que é apresentado nas páginas 13 e 14, foi primeiramente espontâneo – isto é, repentino.

Em 1895 Friederich Engels escreve que “Se a crescente votação socialista continuar assim, ao final deste século, nós teremos conquistado a maior parte dos estratos médios da sociedade os pequenos burgueses e os camponeses transformando-nos na força decisiva do país” e ainda diz mais que “Os conservadores já haviam percebido que a legalidade trabalhava contra eles. Ao contrário nós, sob essa legalidade adquirimos músculos rijos, faces rosadas, e a aparência de vida eterna (...)”.

Após a citação do texto de Engels, entretanto, Paxton expõe que, na realidade o que se viu foi o movimento de reação da alta burguesia sendo aceito por grandes massas populares que passaram a apoiar, cada vez mais – em determinados países - um discurso que evocava as raízes nacionalistas.

O termo fascismo, como exposto no texto, vem do italiano fascio. Originalmente o termo fora utilizado por revolucionários italianos em fins do sac. XIX para evocar a solidariedade e o compromisso entre si. Em 1914 um grupo de nacionalistas de esquerda se apropria da termologia, e milita pela entrada da Itália na primeira guerra do lado dos aliados. Ao fim desta, Mussolini, um dos ativista do Fasco Rivoluzionario d’Azione Interventista – Liga Revolucionária de Ação Intervencionista – cunha o termo fascismo para descrever o estado de espírito do pequeno bando de soldados nacionalistas e revolucionários sindicalistas pró-guerra. Até então, contudo, o termo fascio nao designava o que se entende hoje como fascismo. Este, oficialmente, nasce apenas em 1919, em Milão, na manhã do dia 23 de março em uma reunião da Aliança Industrial Comercial onde os presentes declaram “guerra ao socialismo (...) em razão de este ter-se oposto ao nacionalismo”. Mussolini chamou então seu movimento de Fasci de Combattimento traduzido - aproximadamente como Fraternindade de Combate.

Aproximadamente dois meses mais tarde era divulgado um programa aproximadamente nacional-socialista. Nacionalista no que consisti a convocação a expansão italiana nos Bálcãs e ao redor do mediterrâneo, expansionismo que havia sido frustrado na Coferência de Paz de Paris, meses antes. Dolado mais radical do movimento vinham idéias como o sufrágio feminino e a redução eleitoral para os 18 anos de idade; a abolição da câmara alta; a elaboração de uma nova constituição – provavelmente sem monarquia -; a estipulação da jornada de trabalho em 8 horas; participação dos trabalhadores na administração fabril; além da expropriação parcial de todos os tipos de riqueza, tributando-se fortemente e progressivamente o capital; o confisco de terras da igreja e de 85% dos lucros de guerra.

No pré-guerra o sindicalismo era a principal opositora da classe trabalhadora do socialismo parlamentar. Enquanto estes buscavam uma mudança gradativa do sistema capitalista, através de reformas pontuais – conforme profetizado por Marx no séc. XIX, os sindicalistas buscavam ações de transição imediata.

Nos idos do 1915, quando ambos os grupos socialistas eram contrários a participação italiano no confronto, Mussolini e seus, até então, poucos seguidores defendiam que a guerra levaria a Itália a um estágio mais próximo de uma revolução social. Este grupo havia-se tornado os “sindicalistas nacionalistas”. Vale a pena destacar-se a composição do grupo de Mussolini por – entre outros elementos – os futuristas, que posteriormente, quando o movimento chegar os poder, difundirão os valores próprios dentro do sistema de governo – valores como, por exemplo, a modernidade e a violência – sendo esta adaptada pelo governo como atos violentos contra os opositores.

Alguns meses após a reunião de Milão um escritório de um jornal socialista – o Avanti – é invadido pelos fascistas e resulta em mortos e feriados, além da destruição de equipamentos.

Três anos depois, através do apoio popular, Mussolini e o fascismo chegavam ao poder na Itália. Onze anos depois, na Alemanha. E mais seis anos se passam até que Hitler inicia o maior conflito bélico da história da humanidade.

Muito antes dos fascistas terem chegado ao poder, os marxistas já tinham definido este como “o instrumento da grande burguesia em sua luta contra o proletariado (...)”. Ao longo dos anos o fascismo, exaltou o ódia e a violência em nome do nacional, e mesmo assim atraiu intelectuais de prestígio, estadistas, empresários, artistas e profissionais.

Na segunda parte do texto é explicitado o caráter propagandista do regime fascista. O regime contava com uma forte máquina de propaganda, esta que acabou por construir a imagem que até hoje perduram de tal regime. Nesta parte do texto também é considerado o anti-semitismo. Este é exposto como uma exceção, e não uma regra do fascismo. Para ilustrar esta afirmação, na página 24 Paxton cita que “Na verdade, Mussolini contava com o apoio de industriais e proprietários de terra judeus, que, nos primeiros tempos, lhe forneceram ajuda financeira”.

Outra característica fundamental do fascismo é o seu caráter anticapitalista e antiburguês. Atacavam o “capitalismo financeiro internacional” quase com a mesma força que atacavam os socialistas. Chegaram até a ameaçar com expropriação os donos de lojas de departamentos em favor dos artesãos nacionalistas. Entretanto, essas ameaças anticapitalistas não foram cumpridas quando os fascistas chegaram ao poder.Contudo, é importante salientar – como está no texto – que era seletivo discurso anticapitalista fascista. Ao passo em que atacavam o capital especulativo transnacional, defendiam a propriedade privada nacional, sendo esta a base de uma sociedade revigorada. De uma forma mais profunda, rejeitavam a interpretação histórica de que “as forças econômicas são o motor básico da história”. Uma vez no poder, os regimes fascistas confiscaram as propriedades apenas de seus opositores políticos, dos estrangeiros e dos judeus.

O fascismo surgiu na Itália em 1919 como uma “terceira-via”, sendo contra o capitalismo, e com ainda mais força, contra o socialismo. E assim sempre se manteve, de uma forma ambígua, vagando entre a direta e a esquerda sem nunca estar fixado em um ponto. O ápice da reação fascista ao mapa político definido em relação às esquerda e a direita foi alegar que eles o haviam tornado obsoleto, não sendo “nem de direita nem de esquerda”, havendo transcendido essas divisões arcaicas e unido a nação.

Na terceira parte do texto, o fascismo é apresentado como uma “invenção nova”, criada do zero para a era da política de massas. O fascismo não se baseia num sistema filosófico complexo, e sim no sentimento popular sobre as raças superiores, a injustiça de suas condições atuais e seu direito de predominar sobre os povos inferiores. O fascismo substitui o debate ponderado pela experiência sensorial imediata, transformando a política em estética. Os fascistas odiavam os liberais tanto quanto os socialista, não pelos mesmos motivos, mas pelos primeiros serem como um cúmplice destes, uma vez que a internacionalização era o inimigo, a aplicação estrangeira do capital, era uma forma de agir a favor deste inimigo.


Bibliografia:

PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo, Paz e Terra, 2007. Capítulo1: p.13-49

sexta-feira, 14 de março de 2008